Última atualização: 28/06/2020
Em 28 de junho de 2020 completamos 6 anos morando fora do Brasil, com passagens pelos Estados Unidos e Inglaterra. Neste post super pessoal, falamos um pouquinho do que temos vivido nesses últimos meses e quais são as nossas perspectivas para o futuro.
6 ANOS MORANDO FORA DO BRASIL
Todo ano costumamos publicar um post justamente na data em que nos mudamos para o exterior. Acaba sendo um tipo de “diário” em que relatamos experiências pessoais pelas quais passamos e aprendizados que fomos adquirindo ao longo desses anos. Neste ano de 2020, nós celebramos 12 anos de casamento. Nossa comemoração seria feita durante uma viagem para o México, que estava com tudo comprado e reservado e acabou tendo que ser cancelada por conta da pandemia do Covid-19 que assola grande parte dos países do mundo. Embora tenhamos ficado chateados pelo cancelamento, temos que agradecer pelo fato de estarmos em segurança, com saúde e conseguindo trabalhar de casa, pois sabemos que muitas pessoas estão passando por situações muito difíceis. Em seguida, vamos dar um pano de fundo do que estamos vivendo por aqui, além de algumas percepções e perspectivas.
>> PANDEMIA DO COVID-19 E SUAS CONSEQUÊNCIAS
Infelizmente, por conta da pandemia, a receita proveniente com o blog foi a zero, já que com fronteiras e atrações fechadas, tornou-se praticamente impossível viajar a turismo. Assim, todos os serviços que oferecemos no blog como reserva de hotel, aluguel de carro, passeios, passagens aéreas, chip de celular internacional, seguro viagem, entre outros, foram cancelados pelos nossos leitores impedidos de viajar. Eu, Ana, continuo trabalhando diariamente gerando conteúdo para o blog, colocando no ar posts que ficaram guardados na gaveta por muito tempo e reescrevendo muitos que não estavam do jeitinho que eu queria lá do início do blog. O Paulo, que trabalha na sede do Google em Mountain View, conseguiu manter a rotina de trabalho em casa.
NOSSAS VIDAS NA PANDEMIA
Logo na primeira semana de março, o Google mandou um comunicado interno informando que os funcionários que quisessem, poderiam trabalhar de casa por conta dos riscos do novo coronavírus. Em 7 de março, a “sugestão” se tornou regra e a empresa mandou todos os funcionários deixarem os escritórios. Na semana seguinte, o governador da Califórnia declarou “shelter in place”, ordenando que os habitantes do estado inteiro ficassem em casa, saindo apenas para fazer o essencial. A Califórnia foi o primeiro estado americano a ordenar que os habitantes ficassem em casa e, provavelmente, essa atitude pode ter ajudado a salvar muitas vidas. Para se ter uma ideia, a Califórnia é o estado mais populoso dos EUA, com cerca do dobro da população do estado de Nova York e tem um número muito menor de casos e mortes.
Gavin Newsom, governador da Califórnia, enviou centenas de respiradores para o outro lado do país, já que não estavam sendo utilizados por aqui. Na região que moramos, a situação está sendo relativamente bem controlada e as fases de reabertura foram iniciadas no começo de junho. No entanto, novos casos e mortes continuam sendo registrados e, por isso, estamos em alerta. De qualquer forma, estamos dentro de casa há quase 4 meses, saindo apenas para ir ao mercado a cada 2 semanas. Quem está amando é a Luna, a nossa cachorra, que conta com a atenção dos pais humanos o dia inteiro. Por conta dos riscos, o Google permitiu que os funcionários continuassem trabalhando de casa até o fim do ano, retornando aos escritórios apenas em 2021. É esse o plano.
O “LADO BOM” DA QUARENTENA
Como estamos convivendo juntos 24 horas por dia, nossa interação está sendo muito importante. O nosso relacionamento teve início há quase 16 anos atrás, quando morávamos em cidades diferentes e nos víamos somente aos fins de semana. Passar a semana toda juntos, somente depois que nos casamos, nas férias, durante nossas viagens. Desta vez, estamos tendo essa oportunidade de conviver como nunca tivemos na vida. O Paulo já disse que a experiência está sendo muito boa, ele está se sentindo muito bem trabalhando em casa e nunca se alimentou com tanta qualidade. Como nos tornamos veganos há 2 anos e meio, nossa alimentação mudou muito e costumo preparar muitos pratos com ingredientes frescos, orgânicos e saudáveis e ele está amando ter todas as refeições do dia desta forma. Além disso, estamos aproveitando a oportunidade nos exercitar em casa. Eu estou muito disciplinada, fazendo exercícios 7 dias por semana. O Paulo começou a se exercitar 4 vezes por semana em casa também e pedala aos fins de semana. Estamos tentando aprimorar nossos hábitos saudáveis com o objetivo de sair dessa quarentena melhor do que entramos.
>> PROTESTOS
Somando-se a esse cenário terrível de pandemia que está acometendo vidas humanas e deteriorando a economia, temos que lidar com problemas sociais estruturais muito sérios como a questão do racismo. A truculência policial que tirou a vida de George Floyd em Minneapolis, causou uma onda sem precedentes de protestos pelos Estados Unidos e pelo mundo. Sempre que eu assisto a filmes que relatavam o preconceito racial nos EUA através da escrividão e da segregação na década de 1960 (!!!), sinto um embrulho no estômago. Nos anos 1990, uma série de protestos ocorreram na Califórnia pelos mesmos motivos e é triste ver que, em pleno século XXI, evoluímos tão pouco nesse aspecto como sociedade.
Na região onde moramos também ocorreram protestos e até mesmo toque de recolher. Como disse a ativista política americana Angela Davis, “não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”. Precisamos nos unir como sociedade para ouvir os oprimidos e tentar minimamente compreender os desafios e problemas enfrentados por eles diariamente. Ficamos enojados em escutar discursos de supremacia, deboches e falta de empatia. Atitudes assim nos impedem de evoluir em todos os aspectos. Temos que escutar mais aqueles que sofrem o preconceito, literalmente, na pele e nos posicionar contra àqueles que o cometem. Nós adoramos o tempo em que moramos em Londres justamente por conta da diversidade de pessoas de todas as partes do mundo, com suas etnias, línguas e crenças. Amamos viajar para conhecer lugares interessantes, para aprender sobre novas culturas e tentar compreender o outro lado para respeitá-lo ainda mais. Como disse o escritor Mark Twain:
Viajar é fatal para o preconceito, a intolerância e as ideias limitadas; só por isso, muitas pessoas precisam muito viajar. Não se pode ter uma visão ampla, abrangente e generosa dos homens e das coisas, vegetando num cantinho do mundo a vida inteira.
SUGESTÕES DE FILMES QUE ABORDAM O RACISMO
Abaixo, separamos 5 filmes (entre longas, documentários e minisséries) que abordam a temática do racismo que nós já assistimos e recomendamos muito. Todos eles foram lançados após a nossa mudança de país, têm suas histórias ambientadas nos Estados Unidos e são muito atuais:
- 13ª Emenda (2016) – Indicado ao Oscar de melhor documentário, esta produção da Netflix mostra estudiosos, ativistas e políticos analisando a correlação entre a criminalização da população negra dos EUA e o boom do sistema prisional do país.
- Infiltrado na Klan (2018) – Ganhador do Oscar de melhor roteiro adaptado, este filme é baseado na história real de Ron Stallworth, um policial negro que, nos anos 1970, se passa por um branco para conseguir informações sobre a Ku Klux Klan.
- Se a Rua Beale Falasse (2018) – Ganhador do Oscar de melhor atriz coadjuvante, o filme conta a história de um casal separado após a prisão de um jovem negro, acusado injustamente de um crime por um policial racista.
- Green Book: O Guia (2018) – Ganhador do Oscar de melhor filme, conta a história de um famoso pianista afro-americano que contrata um motorista e guarda-costas para acompanhá-lo em uma turnê pelos estados do sul dos EUA, durante os anos 1960.
- Olhos que Condenam (2019) – Ganhadora de dois prêmios Emmy, essa minissérie da Netflix é baseada em fatos reais e mostra a história de 5 adolescentes negros condenados por um estupro que não cometeram em 1989.
CORAÇÃO APERTADO PELO BRASIL
Aqui de longe, não estamos gostando de praticamente nada do que estamos vendo no Brasil. A impressão que temos é que as coisas só pioraram comparadas há 6 anos atrás quando morávamos no país e as coisas já não estavam bem. Como já falamos em posts anteriores, aprendemos muitas coisas morando fora do Brasil, entre elas a ter a cabeça mais aberta para novidades, para ver beleza na diversidade e para evitar julgamentos sobre aquilo que é diferente de nós. O Brasil está passando por um momento muito crítico, em que está faltando respeito em todos os níveis. Não conseguimos conceber como é possível relativizar preconceitos contra minorias, ter desprezo pela ciência, educação e meio-ambiente, apoiar atitudes anti-democráticas e tentar impor uma visão de mundo egoísta que acolhe exclusivamente anseios daqueles que pensam da mesma forma. Somos questionados por gringos que querem entender o que está acontecendo no país e o que houve para chegar na situação atual. O Brasil, antes visto como um país alegre e inclusivo, está com uma imagem bastante arranhada no mundo. Não temos como saber o que ocorrerá daqui para frente, mas nossas expectativas em relação ao Brasil não são nada boas. Por conta de diversos fatores, incluindo as crises sanitária, política e econômica, não temos planos de ir ao país esse ano, mas ficamos extremamente preocupados com pessoas queridas, família e amigos que lá estão.
IMPACTO NAS VIAGENS EM 2020 E FUTURO
Quanto às viagens desse ano, ainda não sabemos o que acontecerá. Tínhamos planos de fazer várias pequenas viagens de carro pela nossa região, pelo estado da Califórnia e Oregon. Chegamos a fazer algumas bem no comecinho do ano, mas tantas outras foram canceladas. Cancelamos também a nossa viagem para o México em maio, comentada anteriormente. Além disso, em agosto, tínhamos uma viagem todinha programada e reservada para a Europa para celebrar o aniversário do Paulo, mas já foi cancelada. Embora as fronteiras de vários países europeus estejam sendo abertas, nós somos bem conservadores quanto a nos arriscar. Preferimos aguardar para ir em um período em que as coisas estejam mais tranquilas, não haja tantos controles e limitações para conseguir aproveitar melhor o que o lugar tem a oferecer.
2020, definitivamente, não será marcado com um ano bom. Nós estamos no clima de desejar que esse ano terrível possa nos trazer alguns aprendizados e não somente que acabe para que possamos continuar cometendo os mesmos erros em 2021. Temos que pensar em evoluir, em aprender com os nossos tropeços para não repeti-los, em fazer diferente para termos resultados melhores, em sermos mais humanos e conscientes das nossas atitudes. Que pelo menos esse ano difícil possa nos deixar algumas lições importantes, porque saudades, não deixará.
O que já escrevemos sobre morar fora (em ordem cronológica):
- Reflexões após 1 ano morando nos EUA (2015)
- A vida depois da formatura (2015)
- A nova etapa da vida nos EUA (2015)
- Morando Fora: 2 anos morando nos EUA (2016)
- Nossa mudança da Califórnia para a Europa (2016)
- Da Califórnia para a Europa: Preparativos da Mudança e Chegada (2016)
- Diferenças entre morar na Califórnia e em Londres (2016)
- Morando Fora: 6 meses morando em Londres (2017)
- 12 lições que aprendemos viajando (2017)
- Aprendizados após 3 anos morando fora do Brasil (2017)
- Até logo, Londres! Chegou a hora de voltar à Califórnia (2017)
- Os 10 primeiros dias da volta à Califórnia: uma loucura! (2017)
- Nossas vidas após 4 anos morando fora do Brasil (2018)
- 10 coisas que aprendemos após 5 anos morando fora do Brasil (2019)
